sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Quando não se vê tudo

A mulher fala para o marido:

– Não vejo tudo isso que você diz que vê em mim.
            – Nem eu. De fato, não vejo tudo. – responde ele.
            – Então você está mentindo?
            – Não. Jamais faria isso.
            – E o que é?
            – É que nunca vi nada tão bonito assim.
            – Tá, mas você vê ou não vê? Fiquei confusa. Gosto das coisas lógicas.
            – É simples. Você já reparou que fico sempre olhando atentamente pra você?
            – Já, sim. Isso, inclusive, chega a me irritar às vezes.
            – Você já se perguntou por que faço isso?
            – Não.
            – É que quando lhe olho, acho tudo tão bonito que não cabe na minha retina de uma vez. Preciso olhar de modo fracionado, pra ver tudo. Não vejo tudo da sua beleza. Apenas pedaços que se juntam num só afeto: amor. Só não sabia que uma palavra tão pequena formaria uma imagem tão grande a ponto de não poder ser capturada pela retina. Por isso, te olho sempre, que é pra ver se juntando imagens te tenho por inteiro em algum instante entre nós.
            Sussurro, silêncio e luzes apagadas.